sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Quando a birra vira patologia

Novamente viralizou pela internet um vídeo que expõe uma criança. Desta vez, tratava-se de um menino negro de 7 anos, aluno de uma escola municipal. Durante um acesso de raiva, o menino foi filmado por uma educadora e o vídeo publicado na internet. Sem qualquer sinal de tentar entender o que acontecia com ele, a educadora repetia para que ninguém tocasse no menino. O tom de deboche é evidente, deixando clara a intenção de dizer que a proibição de palmadas gera consequências como essa. Além disso, o menino é constantemente desafiado, o que intensifica os golpes que ele desfere contra os materiais da sala dos professores. Para terminar, a mulher que espantosamente é educadora pede para que chamem a polícia ou os bombeiros.

A reação explicitada na maioria dos comentários demonstra aquele velho pensamento adultista que sempre permeia este assunto. A violência contra a criança parece ser a única solução para silenciar os desconfortos demonstrados por ela. Portanto, o menino além de ter sido exposto por alguém que supostamente deveria zelar por ele, ainda se vê em meio a uma legião de pessoas que não demonstram pudor algum em incitar a violência contra ele. 

Mas por que agimos tão irracionalmente diante de uma "birra"? Uso a expressão assim entre aspas porque esta palavra é usada para se referir a uma demonstração de incômodo que acreditamos não ter razão de ser¹. E a expressão é usada principalmente para denominar ataques de raiva, fúria ou tristeza das crianças. Como se apenas pela fato de ela ser criança, seu incômodo fosse considerado menor ou desproporcional.

Pois bem, eu vejo essas "birras" como um marco super importante no desenvolvimento infantil. É na birra que a criança aprende a se colocar no mundo, se afirmar e se fazer ouvir. É neste momento que a gente percebe que a criança se reconhece como sujeito autônomo, separado de sua mãe.

Claro que estar presente naquele momento em que a criança se frustra, na figura de responsável por ela, é super difícil. Afinal, saber lidar com a frustração alheia é algo para poucos. Ainda mais quando a criança não tem desenvolvimento suficiente para conseguir nem entender o que está acontecendo, quanto mais saber controlar aquele sentimento. Porque além da imaturidade, a região do cérebro que coordena as emoções ainda está em desenvolvimento, Portanto, é algo realmente angustiante se frustar com algo e não saber racionalizar. Controlar a raiva é algo que aprendemos com o tempo e o que torna esse processo mais fácil é poder contar com a compreensão daqueles deveriam cuidar de nós.

Porque em momentos de angústia, às vezes, a única coisa que precisamos é de um abraço ou de um olhar compreensivo. Então, por que é tão difícil agir assim com uma criança? Por que a pulsão supostamente educadora parece falar mais alto do que o impulso de acolher? O que uma agressão poderia ajudar em uma caso desse?

Pelo vídeo não conseguimos saber nada daquele garoto. Não sabemos o motivo que o deixou tão furioso, tampouco se ele costuma agir dessa maneira e muito menos se aquela raiva tem origem em problemas familiares. Ora, toda criança age daquela forma. Algumas mais frequentemente, outras menos. Então por que reagir como se aquele menino fosse tão anormal?

O que quero dizer é que não acho que ele esteja necessariamente em sofrimento, ou que seja carente de amor ou, muito menos que tenha problemas psicológicos. E fico realmente assustada com a reação das pessoas que dizem querer defender o garoto usando algumas dessas hipóteses. Se fosse uma criança branca em uma escola particular, a reação seria a mesma?

Ao que me parece a vinculação direta entre desestrutura familiar e o ataque de fúria está diretamente ligada ao fato daquela criança ser negra e pobre. Como se a negritude pressuposse famílias incapazes de amar e proteger. Como se a pobreza implicasse em negligência.

Uma "birra" infantil não significa por si só que a criança viva em um ambiente hostil. Pelo contrário, poder se afirmar e se colocar é um ótimo sinal! Triste é saber que as pessoas não sabem lidar com a frustração alheia, ainda mais vindo de uma criança que não consegue racionalizar seus sentimentos.

A reação advinda deste momento tão peculiar da infância só revela adultismo, racismo e classismo. Por todos os lados. Seja daqueles que defendem o uso da violência contra a criança com daqueles que explicam a atitude do menino como falta de amor.

Tenho uma amiga que sempre repete: "A criança é um artefato biopolítico que garante a normalização do adulto²". Repreender a criança, encaixotá-la, nada mais é do que querer normalizar a nós mesmos. Por isso esta ânsia em obter "normalidade" da criança. Para que não chore. Não grite. Não se zangue. Triste daquele que não pode se expressar por medo de repreensão, e muito mais triste é aquele que não o faz por incapacidade de se reconhecer como sujeito portador de vontades.




1. Significado de birra: a.ato ou disposição de insistir obstinadamente em um comportamento ou de não mudar de ideia ou opinião; teima, teimosia. bsentimento ou demonstração de aversão ou antipatia, esp. quando renitente e motivado por algum capricho, paixão ou suscetibilidade; implicância, má vontade.

2. Esta frase é de Paul Preciado e pode ser lida neste incrível texto.



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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Das coisas que aprendo com meu filho

Então chega um dia que a gente percebe que tem muito mais a aprender com as crianças do que a ensinar. Já ouvi isso milhares de vezes, mas só venho entendendo agora o que quer dizer.

Tenho pensado que há três formas de exercer a alteridade. A mais comum, e infelizmente aquela da qual mais me valho, é a que despreza a realidade do outro e busca-se por explicações rasas e fáceis para justificar a realidade daquele que não sou eu. O que importa pro outro pode não importar para mim e ficamos por aí, sem qualquer pretensão de compreensão, incapaz de ver algo além de mim. Exemplo corriqueiro disso é querer explicar a situação alheia através de argumentos meritocráticos, em que se prega ser necessário apenas esforço para se atingir um objetivo, sem levar em conta demais fatores envolvidos na questão.

Também é possível se relacionar exercendo a empatia. E não acredito que isso seja um sentimento espontâneo, pelo contrário, vejo a empatia como um exercício que requer prática e racionalidade. Além disso, vejo a empatia como a tentativa de se colocar no lugar do outro. EU me coloco no lugar do outro, tento ver a realidade usando seus sapatos, entretanto, a partir dos meus olhos. Portanto, a empatia é eivada de uma intenção legítima de considerar o outro e sua realidade, todavia, não permite o acesso efetivo ao outro já que o EU se impõe. Sendo assim, empatia nada mais é do que se comover consigo mesmo. No entanto, acredito que essa seja a forma mais honesta de se relacionar com aqueles que não são tão próximos, afinal não é possível saber das histórias, limitações ou mesmo da realidade daquele que não conhecemos.

E há pouco tempo venho observando uma terceira possibilidade e esta é, sem dúvida, a mais difícil porem a mais efetiva maneira de acessar o outro. Ela consiste em esvair-se, deixando de lado o EU para que haja só o outro. É evidente que se desprender completamente de si é algo impossível, mas o que interessa é saber que para entender o outro o que menos importa é o meu EU. As minhas concepções e minha forma de ver o mundo (WELTANSCHAUUNG é uma expressão em alemão muito usada na filosofia para descrever o que quero dizer) pouco importam na realidade alheia. Conseguir tirar o meu EU do foco faz com que o outro se torne visível, porque somente assim eu consigo deixar de me para ver quem eu quero entender. A grande diferença entre a empatia e essa terceira possibilidade é que para aquela é necessário se por no lugar do outro. Ora, para isso é importante haver algum elemento de conexão, enquanto aqui cabe apenas a observação não sendo necessário um reconhecimento.

E cheguei nesta conclusão ao ver como meu filho se relaciona comigo e com as pessoas próximas. A criança possui a característica comum aos melhores cientistas: a observação. Ela observa não só o mundo a sua volta como também as pessoas e seus comportamentos. Ainda que ela não entenda o que é a morte, ela tem noção da relação de total dependência entre ela e os adultos. E entendê-los se torna uma questão de sobrevivência.

É no observar e entender a dinâmica de seu cuidador que a criança consegue obter o que é necessário para si. Não é à toa que as pessoas costumam dizer que os filhos se comportam diferente na presença da mãe. Ela, que costuma exercer a função de cuidador principal, torna-se o elo entre a criança e o mundo, por isso, entendê-la é vital para a sobrevivência da criança. Portanto, o filho passa a se relacionar com sua mãe da mesma forma que ela se relaciona com o mundo quando está diante dela. Ou seja, para a mãe fica fácil se reconhecer na criança, ainda que esse movimento seja inconsciente. E por existir essa conexão, há um convite para que a mãe empatize com o filho, no entanto, esse reconhecimento pode ficar restrito à criança que ela foi um dia sem se conseguir enxergar o indivíduo que se mostra na figura de filho.

Vários foram os momentos em que eu me peguei perplexa observando meu filho como se me visse num reflexo. Quantas vezes passei a entender melhor a dinâmica do meu marido ao observar pai e filho juntos. "Num retrato falado, eu, fichado e exposto em diagnóstico (...) Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê"[1]. É assim que me sinto perante meu filho: decodificada. É só observá-lo comigo para se ter uma leitura clara e límpida de quem eu sou.

E essa leitura é possível para as crianças porque, além de não estarem impregnadas de preceitos morais, elas conseguem deixar de lado o próprio self para ver o outro. Entender o outro neste caso é vital. E para nós, adultos, é fundamental que entendamos esse comportamento, sob pena de sacrificar o self da criança em troca de compreensão e reconhecimento. Porque esvair-se, desprender-se de si pode significar o sacrifício de se perder, de passar a incorporar o outro e assumir um falso self.

Uma coisa curiosa é que no alemão a palavra alteridade é "anderssein", que por sua vez pode ser traduzida por "ser o outro". Perceba, não é se colocar no lugar do outro e sim sê-lo. 

Essa é mais uma das coisas que venho aprendendo com meu filho. Muito mais do que exercer a empatia, a minha tentativa é entendê-lo para além de mim. É tentar enxergar o que ele realmente precisa quando me interpreta sob meus olhos. É poder respeitar e acolher o que ele realmente é nas suas mais diversas facetas.

Contudo, ainda que todas essas conclusões possam não passar de meros devaneios, tenho a certeza de que meu filho foi a pessoa que me fez olhar para dentro de mim, que tirou-me dos olhos um venda que insistia em me cegar diante de mim mesma e do meu verdadeiro eu.




[1] Letra da música Retrato para Iaiá de Rodrigo Amarante.

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

As crianças e a comunidade

Uma das coisas mais estranhas que me aconteceu desde que me tornei mãe foi a intromissão de geral na minha vida. Foi com o despontar da barriga que começaram os pitacos, as intromissões, os conselhos. Mas nada se compara com a chegada do bebê e a súbita sensação de que minha vida (e a dele) de uma hora para outra se tornou pública.

Andar com um bebê na rua significa atrair inúmeros olhares, além da possibilidade de ser parada para uma conversa despretensiosa com qualquer pessoa. É como se o simples fato de carregar um bebê desse carta branca para que as pessoas lhe dissessem como conduzir sua vida, apontar falhas sem qualquer constrangimento ou iniciar uma conversa sobre a experiência de ter filhos. Para alguém reservada e curitibana como eu foi algo assustador.

No começo fiquei perplexa e muitas vezes chateada, ou até mesmo brava com essa situação. Na maioria das vezes ou não respondia ou esboçava um sorriso amarelo, mesmo quando a vontade era de responder: "Te perguntei alguma coisa?". Contudo, faz uns meses que comecei a perceber que me acostumei a essa situação e poder conversar com pessoas que não conheço me traz uma sensação de pertencimento. Uma sensação tão boa que me sinto só, ensimesmada mesmo quando não ando pelas ruas com  meu filho.

Eu o levo a escola de ônibus todos os dias. O entrosamento já começa no elevador se encontramos algum vizinho. O que antes era somente um bom dia seco, agora a conversa se aperta nos poucos segundos que temos ali dentro. Cumprimentamos o zelador na portaria e saímos para rua. Não raro encontramos o gari logo à porta e o Daniel nos explica que é importante não jogar lixo na rua para não entupir o bueiro. O gari concorda e sempre troca umas risadas com ele. Seguimos e vemos uma linda imagem de uma mulher grafitada na parede. Daniel se encanta com a borboleta que ela carrega em seus ombros. Mas há poucas semanas, alguém pichou a imagem. Ele me pergunta, então, todos os dias: "Por que riscaram a cara da moça, mamãe?". Andamos mais um pouco e ele logo avista a barraca de frutas. Rapidamente me pede a moeda e corre para escolher a sua banana. O dono da barraca tem um filho da mesma idade que ele e se diverte com a felicidade que o Daniel demonstra ao fazer a sua compra sozinho: da escolha do produto ao pagamento. Seguimos para a fila do ônibus. Ali os passageiros já o conhecem pelo nome, tal qual o motorista. Eles sempre se surpreendem com a celeridade do crescimento do Daniel e como ele está mais falante a cada dia. A sensação é sempre a de zelo, tanto por mim quanto por ele. Chegamos ao nosso destino em frente a um prédio da prefeitura. Daniel fica encantado quando encontra o guarda hasteando as bandeiras. Seguimos em direção à casa do Nino, um cachorro magrinho que sempre está a procura do sol. Fazemos os cumprimentos rotineiros e ele permanece inerte. Mas quando nos despedimos, ele levanta num supetão e começa a latir enlouquecidamente. Passamos à casa do Bolota, Pepa e Nifet. Três cachorros que de longe nos escutam e esperam ansiosamente no portão. Às vezes encontramos a simpática moradora da casa e nos estendemos mais alguns minutos. No caminho ainda encontramos mais alguns moradores que já estão acostumados com nossa rotina até chegarmos no parquinho. Um parquinho acolhedor numa rua tranquila mas sempre carente de crianças. Pouquíssimas foram as vezes que vi ele receber a visita de outra criança que não fosse o Daniel. Me deixo convencer que outras crianças passam por ali mais ao fim do dia. É geralmente neste trecho que encontramos João, o gari, que sempre chama o Daniel de galego. Ainda temos tempo de afagar os três gatinhos vizinhos da escola e o cachorro Guido que vive com eles. Quando é época de amora pegamos algumas do pé e chegamos no portão da escola onde me despeço do meu companheiro de aventura.

Um percurso que poderia fazer sozinha e a pé facilmente em 20 minutos, costuma demorar quase uma hora. Cultivar essa rotina e cuidar para que tudo seja feito sem pressa nos abre a possibilidade de sempre conhecer gente nova, observar a minhoca que desliza entre a grama e perceber a imagem enorme do Paulo Leminski que nos observa. Caminhar com uma criança se deixando ser levada por ela é redescobrir a cidade e se sentir parte de uma comunidade. Uma comunidade formada por pessoas dos mais diferentes tipos que não se resumem apenas entre os nossos, sejam amigos, familiares ou colegas.

E o mais incrível é perceber como a infância é comovente. Uma criança nunca passa desapercebida por meio das pessoas. Seja através da completa indiferença (que não se enganem: nunca é espontânea) ou até daqueles que se sentem no direito de tocá-las antes mesmo de trocar algumas palavras.

E todo aquele meu desconforto com o que eu achava ser intromissão, hoje se transformou em satisfação. Deu lugar a uma sensação de fazer parte desse lugar que vivemos, de estar verdadeiramente entre as pessoas e o melhor: de que as pessoas se importam com a infância, ainda que a seu jeito, a infância ainda comove.


Há um vídeo lindo aqui que mostra a rotina do Tim Tim, muito parecida com essa do Daniel.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Besame Mucho: Como criar os seus filhos com amor - Resenha

Devo dar colo ao bebê sempre que ele chora ou que sinto vontade? Ele não irá se tornar um pequeno tirano por conta disso? Quando devo desmamá-lo? É saudável deixar o bebê dormir na mesma cama que seus pais? Até que idade essa situação deve perdurar? Como devo impor limites aos meus filhos? As crianças são cruéis por natureza?

A resposta a estas indagações dada por amigos, familiares e médicos vai de encontro àquilo que você intuitivamente sente? Então, experimente ler este livro.

Besame Mucho é um livro do pediatra espanhol Carlos Gonzalez que acredita não ser necessário aos pais livros de puericultura. No entanto, em meio a tantas informações desconexas e a bestsellers que preconizam haver uma disputa real entre pais e filhos, Carlos Gonzalez vem para acalantar e encher de amor o coração de pais que acreditam que seus filhos são essencialmente bons e que nessa relação não há disputa e sim interesses complementares:


Este livro que até há bem pouco tempo não tinha versão impressa para venda em português, me serviu de alento quando parecia que toda minha intuição ia de encontro com as recomendações sobre se cuidar de um bebê. Carlos Gonzalez reafirma a capacidade dos pais em criar seus filhos ao mesmo tempo que defende que os chamados da criança são legítimos e não manha ou um desejo incontrolável de manipular os pais. Afinal, não somos nós que estamos o tempo todo lendo e nos informando sobre criação dos filhos? Então, quem estaria tentando manipular quem nesta relação?

Ainda, o livro aborda esse sentimento excessivo de culpa que ronda as mães atualmente. Por que os cuidados são atribuídos quase que exclusivamente a elas? A quem interessa essa lógica que coloca as mães como culpadas pelas falhas na maternagem?


Definitivamente, este é um livro que está em defesa das crianças, assim como está em defesa dos pais. Carlos Gonzalez foi muito sensível em demonstrar que é possível cuidar das crianças sem vê-las como inimigos. Ao contrário, crianças são seres humanos carentes de atenção, respeito e amor.

Este livro é, sem dúvida, o melhor livro de puericultura que já li até hoje. Se pudesse, presentearia todos os pais com ele!

A versão física e em português pode ser encontrada aqui.

E a lista completa de livros sobre maternidade, inclusive com outras resenhas deste blog, está disponível aqui.



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O Livro da Maternagem - Resenha

Este foi o livro que me abriu as portas para o início de outras leituras sobre maternidade. Ele foi idealizado por uma pediatra, a Drª Thelma de Oliveira conhecida como Drª Relva, e foi inspirado em uma comunidade formada no Orkut, a Pediatria Radical. O livro é uma coletânea de textos sobre os mais variados assuntos que envolvam a maternagem escritos pela Drª Relva ou por outras mulheres que de alguma forma estavam ligadas pela comunidade virtual.

O resultado é um livro que preza pela maternagem com respeito à criança e a seus cuidadores, numa linguagem super acessível e que foge ao senso comum. Ele é imenso e conta com mais de 700 páginas, mas é feito para ser lido à medida que a curiosidade vai aparecendo. Como dito, os temas são bastante variados, e vão desde gravidez, parto, amamentação, sono, cuidado com o bebê, com a criança, introdução alimentar, passando por início da escolarização, obesidade infantil, papel do pediatra até a chegada de um irmãozinho. Conta ainda, com uma vasta bibliografia. Portanto, é um livro muito bacana para se ter sempre à mão para uma eventual consulta.

Para quem se interessa por um exercício da maternagem que foge aos padrões doutrinários e consumistas, ele é um prato cheio! Ressalto, que não se trata de um manual, tampouco uma cartilha sobre criação de filhos, ele é sim uma ferramenta que ajuda a lidar com situações de acordo com a realidade de cada criança e de seus pais. Inclusive, é uma excelente opção de presente para amigos que estão se preparando para serem pais.


Para saber mais sobre o livro, recomendo esta leitura. E ele pode ser encontrado aqui.


Por aqui tem também resenha do livro Sermões de Ser Mãe e Eu não quero (outra) cesárea. E a lista completa de livros sobre maternidade.







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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

SMAM 2015: Apoio à mulher que trabalha e amamenta

Quem vê a cena de uma mulher serenamente amamentado não sabe se, ainda durante sua gravidez, a expectativa sobre o sucesso da amamentação era angustiante. Se acordava de madrugada pensando se teria leite suficiente, se conseguiria amamentar, se o leite não seria fraco, e que tudo isso poderia ser uma tortura.

Quem vê um bebê adormecer placidamente ao seio não vê a mulher que há meses não dorme uma noite inteira. Não imagina as dores que ela possa ter sentido nos primeiros meses de amamentação, que apesar da dor, do empedramento do leite, do seio escorrendo sangue, ela pode ter persistido e conseguido continuar amamentando.

Quem vê uma mulher amamentando desinibida em lugar público não se pergunta sobre a rede de apoio que foi necessária para que ela continuasse a ter momentos tão cheios de amor com seu bebê. Se havia um(a) companheiro(a) que acordava junto com ela para acalmar o bebê que chorava, se tinha amigos que passaram na sua casa e trouxeram comida quentinha quando ela se via perdida na casa suja em meio aos choros e à solidão do puerpério. 

Quem vê um bebê já grande sendo amamentado, não questiona sobre os colegas de trabalho de sua mãe que fizeram todo o possível para que ele seguisse mamando mesmo ela tendo de voltar à jornada antiga. Quem vê essa cena, não tem a mínima noção do quanto é sacrificante persistir amamentando mesmo com olhares e comentários de reprovação.

Quem vê uma mulher amamentando, não imagina a satisfação e a felicidade que é ver o bebê engordar e crescer loucamente somente com o leite produzido pelo seu próprio corpo. 

Ao mesmo tempo, quem vê um bebê segurando bravamente sua mamadeira, nem pensa se sua mãe, por conta da mastite, viu seu leite se misturar à sangue e pus, e se gritou dores lancinantes e desistiu da amamentação. Ou se via seu filho mamar incansavelmente mas não se satisfazer com o leite que brotava do seu corpo e acabou optando pela complementação.

Quem vê uma mulher dando mamadeira ao seu bebê, não pensa em questionar a indústria do leite artificial que insiste em fazer as mulheres acreditarem que seus corpos são falhos e patrocinam até mesmo os pediatras para lhes fazerem pensar assim.

Quem vê uma mulher com seu bebê nos braços a apoiar uma mamadeira, não imagina que a despeito da ausência dos hormônios da amamentação, é também possível criar vínculo e laços de amor ainda que ausente a sucção ao seio.

Quem vê uma mulher que não conseguiu amamentar, esquece de perguntar se teve alguém que lhe limpasse a casa, lhe fizesse comida, lhe desse palavras de apoio, lhe chamasse para conversar e fazer um passeio, lhe oferecesse o ombro para chorar as angústias nunca antes vividas.

Porque amamentar é antes de tudo um evento coletivo. Cada mãe que possui uma história bem sucedida de amamentação tem por detrás de si toda uma rede de apoio. E por saber que a minha história bem sucedida é uma vitória coletiva, é que é tão importante saber acolher quem não conseguiu amamentar. Enxergar os meus privilégios e reconhecê-los como tais, faz com que o meu olhar sobre o outro seja de empatia e não de julgamento. Porque o aleitamento está além de ser uma escolha individual, visto que é algo que depende intimamente do apoio que se recebe.

E por ser o aleitamento algo tão importante para o bebê e o apoio tão determinante para esta conquista é que devemos lutar para que o apoio ao aleitamento materno seja cada vez maior e que perpasse todas as esferas da nossa vida, seja ela familiar, social, legislativa ou corporativa.

E, ainda, por saber que muitas mulheres para conseguirem maternar precisam trabalhar, ou mesmo, para se realizarem com a maternidade precisam também se sentirem realizadas com sua vida profissional, que é importante dar suporte à mãe que amamenta e que trabalha.

Por este motivo, aproveito a Semana Mundial do Aleitamento Materno de 2015 que tem como mote o apoio à mulher que trabalha e amamenta para agradecer imensamente a toda a minha rede de apoio que tem me acolhido nessa caminhada que já dura mais de dois anos e meio.

Agradecer ao meu marido que esteve prontamente ao meu lado sendo a base da nossa relação de amamentação, auxiliando sempre desde a simples oferta de um copo de água até resolvendo todos os perrengues que estavam além da díade mãe-bebê. Que, além disso, tem sido fundamental na condução do desmame que há pouco se iniciou.

Aos meus colegas e amigos de trabalho que prestaram apoio incondicional a mim e ao Daniel quando tivemos que voltar ao trabalho já nos seus quatro meses de vida. Voltamos juntos, com sala, berço e muito colos e abraços emprestados.

À minha mãe que sempre esteve tão presente desde o nascimento e que já há algum tempo passa noites com o Daniel para que possamos dormir noites inteiras, ou mesmo não dormir e relembrar a vida de quando ainda éramos somente filhos.

À pediatra mais linda que já conhecemos que sempre buscou antes de aconselhar, ouvir. Que nunca desincentivou o aleitamento, pelo contrário, sempre deu forças para que ele se mantivesse enquanto julgássemos necessário.

E aos amigos que não se afastaram. Que mesmo com nossa mudança radical de vida e já cansados de tanto me ver com os peitos de fora, continuaram a nos proporcionar boas risadas e momentos que só encontramos com aqueles que escolhemos ser irmãos.

Por tudo isso, nesta semana tão especial, desejo apoio às mães que amamentam e acolhimento às que não conseguem.


E por aqui já teve texto sobre amamentação, machismo e misoginia.

E muitas dicas do Dr. Carlos Gonzalez para o sucesso do aleitamento.
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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Livros sobre maternidade


Segue abaixo a relação de livros sobre maternidade que já tive oportunidade de ler (ou que estão na fila para isso) e minha avaliação sobre eles:




1.    Alice Miller

A revolta do corpo

Avaliação: Na fila para leitura









2.    Alice Miller

A verdade liberta

Avaliação: «««««






3.    Alice Miller

O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos

*Não se deixe enganar pelo título! A tradução foi muito infeliz. O título original é “Das Drama des begabten Kindes: Und die Suche nach dem wahren Selbst.” Que poderia ser traduzido para: “O drama da criança sensível: e a busca pelo eu verdadeiro

Avaliação: «««««ô





4.    Alice Miller

Não perceberás: variação sobre o tema do paraíso

Avaliação: «««««










5.    Alice Miller

No princípio era a educação

Avaliação: «««««










6.    Carlos González (Leia a resenha aqui!)

Bésame mucho: Como criar seus filhos com amor

Avaliação: «««««ô










7.    Carolina Pombo

A mãe e o tempo

Avaliação: «««¶¶








8.    Donald W. Winnicott

Os bebês e suas mães

Avaliação: ««««








9.    Elisabeth Badinter

O Conflito: A mulher e a mãe

Avaliação








10. Elisabeth Badinter

Um amor conquistado: o mito do amor materno

Avaliação«««¶¶










11. Laura Gutman

Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos

Avaliação: «««¶¶







12. Laura Gutman

Mulheres visíveis, mães invisíveis

Avaliação: «««¶¶







13. Laura Gutman

O poder do discurso materno

Avaliação: ««««







14. Ligia Moreiras Sena e Andréia C. K. Mortensen

Educar sem violência: criando filhos sem palmadas

Avaliação: ««««







15. Luciana Benatti e Marcelo Min

Parto com amor: Em casa, com parteira, na água, no hospital. Histórias de nove mulheres que vivenciaram o parto humanizado.

Avaliação: «««««






16. Luciana Carvalho (Leia a resenha!)

Eu não quero (outra) cesárea: Ideologia, relações de poder e empoderamento feminino nos relatos de parto após cesárea

Avaliação«««««







17. Mariana de Lacerda (Leia a resenha!)

Sermões de ser mãe

Avaliação«««««










18. Michel Odent

A cientificação do amor

Avaliação: Em leitura









19. Thelma de Oliveira (Dr. Relva) (Leia a resenha!)

Avaliação: ««««







   20. Ulrich Koch

Vacinar sim ou não? Na infância e na idade adulta – Orientação na perspectiva homeopática

Avaliação: ««««






Legenda de Avaliação:
«««««ô    = Fodástico
«««««       = Excelente
««««       = Muito bom
«««¶¶       = Bom
««¶¶¶       = Regular
«¶¶¶¶       = Ruim





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