quarta-feira, 22 de julho de 2015

Livros sobre maternidade


Segue abaixo a relação de livros sobre maternidade que já tive oportunidade de ler (ou que estão na fila para isso) e minha avaliação sobre eles:




1.    Alice Miller

A revolta do corpo

Avaliação: Na fila para leitura









2.    Alice Miller

A verdade liberta

Avaliação: «««««






3.    Alice Miller

O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos

*Não se deixe enganar pelo título! A tradução foi muito infeliz. O título original é “Das Drama des begabten Kindes: Und die Suche nach dem wahren Selbst.” Que poderia ser traduzido para: “O drama da criança sensível: e a busca pelo eu verdadeiro

Avaliação: «««««ô





4.    Alice Miller

Não perceberás: variação sobre o tema do paraíso

Avaliação: «««««










5.    Alice Miller

No princípio era a educação

Avaliação: «««««










6.    Carlos González (Leia a resenha aqui!)

Bésame mucho: Como criar seus filhos com amor

Avaliação: «««««ô










7.    Carolina Pombo

A mãe e o tempo

Avaliação: «««¶¶








8.    Donald W. Winnicott

Os bebês e suas mães

Avaliação: ««««








9.    Elisabeth Badinter

O Conflito: A mulher e a mãe

Avaliação








10. Elisabeth Badinter

Um amor conquistado: o mito do amor materno

Avaliação«««¶¶










11. Laura Gutman

Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos

Avaliação: «««¶¶







12. Laura Gutman

Mulheres visíveis, mães invisíveis

Avaliação: «««¶¶







13. Laura Gutman

O poder do discurso materno

Avaliação: ««««







14. Ligia Moreiras Sena e Andréia C. K. Mortensen

Educar sem violência: criando filhos sem palmadas

Avaliação: ««««







15. Luciana Benatti e Marcelo Min

Parto com amor: Em casa, com parteira, na água, no hospital. Histórias de nove mulheres que vivenciaram o parto humanizado.

Avaliação: «««««






16. Luciana Carvalho (Leia a resenha!)

Eu não quero (outra) cesárea: Ideologia, relações de poder e empoderamento feminino nos relatos de parto após cesárea

Avaliação«««««







17. Mariana de Lacerda (Leia a resenha!)

Sermões de ser mãe

Avaliação«««««










18. Michel Odent

A cientificação do amor

Avaliação: Em leitura









19. Thelma de Oliveira (Dr. Relva) (Leia a resenha!)

Avaliação: ««««







   20. Ulrich Koch

Vacinar sim ou não? Na infância e na idade adulta – Orientação na perspectiva homeopática

Avaliação: ««««






Legenda de Avaliação:
«««««ô    = Fodástico
«««««       = Excelente
««««       = Muito bom
«««¶¶       = Bom
««¶¶¶       = Regular
«¶¶¶¶       = Ruim





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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sermões de ser Mãe - Resenha


Quando estava por volta do fim do puerpério comecei a ler compulsivamente. Primeiramente eram apenas os posts sobre maternidade, que logo passaram a acompanhamento assíduo de blogs para então começar a leitura de livros. Pretendo aqui escrever sobre todos esse livros que tenho lido desde então.

E, foi mais ou menos nesta época que fui apresentada ao livro "Sermões de ser Mãe" de Mariana de Lacerda. Um testemunho sincero de uma mãe sobre sua experiência de maternidade e sobre seu puerpério.

Para quem não sabe, puerpério é aquele período pós-parto, que tecnicamente costuma ser de 40 dias, mas que de fato pode durar muito mais do que isso. Para mim, durou cerca de um ano. E foi difícil, angustiante e sofrido. Gosto muito dos textos da Renata Penna sobre o assunto e ela define o puerpério como um luto. E acho que é bem por aí. O puerpério é um momento de introspecção, auxiliado pela bomba de hormônios que ocorre após o nascimento, em que percebemos a transformação que a maternidade traz: momento de deixar morrer a mulher que fomos para nascer uma pessoa nova. E o luto não é um período feliz, mas pode ser necessário. E, a despeito do que quero trazer aqui, está rolando um projeto muito legal da Ligia Moreiras Sena, do Cientista que virou Mãe, que vai transformar em documentário o depoimento de mulheres sobre esse período. Período este em que se preocupam muito com o bebê, enquanto a mãe está em frangalhos.

Enfim, acho bem importante pontuar a importância do puerpério porque foi através do livro da Mariana (sim, me sinto íntima) que eu consegui passar por este momento. Eu o encontrei através da resenha feita pela Isa Kanupp, do Para Beatriz, que é excelente!

Embora o livro tenha sido escrito quando a Estela (filha da Mariana) já tinha 7 anos, ele aborda os primeiros dois anos após o nascimento. A autora analisa o contexto social da maternidade: como ele era vivido antigamente e como o fazemos agora. A forma como criar filhos tem se tornando cada vez mais uma experiência solitária. Além disso, a expectativa das mulheres das gerações passadas era a de se tornar mãe. De alguma forma, maternar era o objetivo social das mulheres. E, hoje, espera-se que as mulheres estudem, construam uma carreira profissional, enquanto que não há estímulos para que a mulher possa se dedicar ao cuidado dos filhos sem prejuízo das outras esferas. Ao mesmo tempo, os homens continuam a sua vida pós nascimento com poucas alterações em relação à vida sem filhos.


Há, inclusive, um trecho do livro que me marcou muito em que ela conta como se sentia injustiçada pela sua vida ter mudado tanto enquanto que o marido continuava a sair lindo e cheiroso para o trabalho. Ah, como me identifiquei com isso!!!



Mariana aborda, então o contexto social, a expectativa que se coloca sobre as mães, o parto, a amamentação, o desmame, o casamento e, ainda, um visão psicanalítica sobre o assunto. Para mim, foi uma porta de entrada para a literatura existente sobre a maternidade. É um relato sincero em um discurso que parece uma conversa de amigas, de mãe para mãe.

Certa vez, emprestei este livro a uma amiga que, ao final da leitura, disse que apesar de ter gostado muito, sentiu muita culpabilização. Ora, era assim que eu me sentia. Eu, que nunca tinha pesquisado a fundo sobre maternidade, trazia a ideia do senso comum: que mulheres sabem ser mães, que sempre sabem o que é o melhor para o bebê e que a maternidade é uma fonte inesgotável de felicidade. Como não sentir culpa ao não me sentir feliz daquele jeito?

Recomendo muito, não só às mães, mas também aos pais para que possam entender melhor como suas companheiras se sentem; às pessoas que desejam a maternidade/paternidade e também a todo mundo que se interesse pelo tema.


O livro pode ser encontrado aqui.

*Também escrevi uma resenha sobre o livro "Eu não quero (outra) cesárea" aqui.





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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eu não quero (outra) cesárea - Resenha

"Eu não quero (outra) cesárea" é na verdade uma tese de doutorado que se transformou em livro. E que livro! A autora Luciana Carvalho Fonseca é, além de linguista, ativista pelo parto humanizado, uma combinação que resultou numa brilhante pesquisa que destrincha discursos e as relações de poder permeada por eles. 

Este livro me fez repensar a importância da divulgação de relatos de parto e com ele me encorajei a escrever o meu, que está disponível aqui.

O título do livro já adianta que seu conteúdo aborda basicamente casos de VBAC (Vaginal Birth After Cesarean ou Parto Vaginal Depois de Cesárea.), no entanto, acredito que a leitura é muito enriquecedora também para aquelas pessoas que buscam um parto respeitoso, independente de haver gestação prévia ou da via de parto anterior. Isto porque através da leitura é possível perceber o caminho necessário a se percorrer entre um nascimento guiado por técnicas que priorizam a medicalização em detrimento da mulher e do feto até chegar a conquista do nascimento que ocorre respeitando tempo, escolhas e evidências. Ou seja, estando imersos em um sistema obstétrico que se pauta na medição de tempo e dinheiro, conseguir parir com dignidade é uma luta. E conhecer batalhas vividas por outras mulheres faz com que nossa história possa seguir de maneira mais consciente e preparada.
  


Por se tratar de uma tese de doutorado há capítulos muito técnicos no livro em que se explica a metodologia da pesquisa e o programa utilizado para a Análise Crítica do Discurso. No entanto, a linguagem é bem acessível, possibilitando até mesmo para quem não é da área conseguir entender como se deu o processo de construção deste trabalho.

Primeiramente, o livro aborda o paradoxo entre ser mais benéfica, tanto para mãe quanto para o bebê, a escolha pelo parto normal e o elevado número de cesareanas no Brasil e nos Estados Unidos. Após, a autora analisa os discursos da mídia em relação ao nascimento, seja em obras de ficção como nos noticiários e mesmo no relato de parto de celebridades.
  


É curioso constatar como muito da ideia do senso comum que temos sobre o nascimento provém de como o parto é relatado em novelas e jornais. A crítica do livro é aguçada e inteligente fazendo um convite para o leitor observar esse contexto sob um prisma nunca antes considerado.



Além disso, analisa-se o projeto Cegonha do governo federal que, apesar de parecer uma cartilha que incentiva a adoção de práticas da humanização no SUS, usa a imagem da cegonha que se contrapõe à ideia de que é a mulher protagonista do parto e não de que o bebê seja trazido por algo “místico”, no caso a cegonha:
  


Por fim, há uma análise detalhada de relatos de parto tanto de brasileiras como americanas. A autora destacou as palavras mais usadas nestes textos como: "eu" (consegui, renasci), "bebê", "marido", "doula", "médico" e analisou com muita perspicácia como cada palavra é usada, considerando o contexto específico.

Há de se fazer um recorte de classe nestes relatos! Ao que parece, tratam-se de relatos vindo de mulheres de classe média ou alta. E a autora não se esquece disso:



Fiquei com muita vontade de ver um trabalho parecido mas que envolva pacientes do SUS, de maneira a comprovar a sessão de tortura que milhares de mulheres são submetidas diariamente sob o falacioso discurso de que os procedimentos obstétricos praticados são necessários (quando na verdade são pura violência obstétrica), de que de tão normalizados passaram a ser institucionalizados.


 Para quem se interessa pelo sistema obstétrico, pela forma de se nascer e por relações de poder evidenciadas através do discurso (sim!!! tem Foucault!) é um prato cheio. Recomendo e muito este livro que pode ser encontrado aqui.
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O tal do instinto materno


Então o bebê nasce e vem para os seus braços tão miudinho e tão vulnerável e, de forma quase instantânea, surge a pergunta: o que faço com ele agora? Onde está o tal instinto materno para me ajudar?

Cada vez mais tenho a certeza de que essa história de instinto materno é uma grande bobagem. Nós mulheres não nascemos sabendo ser mãe. Muitas de nós, inclusive, nem desejam a maternidade. Pois é, esse papinho de que o relógio biológico vai tocar para toda mulher e convocá-la a ser mãe é também uma grande furada. A verdade é que quando nossos filhos nascem (e se nascem) nós não sabemos nada. Ainda que tenhamos lido muito, nos preparado, tido experiências com filhos de amigas ou com sobrinhos, a experiência de ter filhos é diferente.

Muitas mulheres se frustram ao ver seu filho pela primeira vez e não sentirem aquele amor avassalador. Eu mesma não senti. Senti que estava em transe, de certa forma eu tinha consciência da grandiosidade do acontecimento que era gestar e dar a luz a uma criança. Mas não era amor. Era um querer estar o tempo todo junto ao bebê lhe protegendo e saciando suas necessidades muito mais numa relação de cuidado do que de amor. O amor foi sendo então construído. À medida que ele é mais ele e menos eu, o amor cresce. À medida que ele vai conquistando autonomia e formando sua própria personalidade, a minha admiração vai crescendo por ver nele algo tão próximo a mim e ao mesmo tempo tão diferente.

Mas e o instinto materno? Talvez ele tenha algo a ver com essa necessidade inicial de proteger. Talvez tenha certa influência da nossa cultura judaico-cristã que manda honrar pai e mãe, afinal é deste mandamento que sai aquela estapafúrdia ideia de que pais acertam mesmo quando erram. "Honrar pai e mãe" é muitas vezes usado para expiar a culpa dos pais. Porque se mães fossem mesmo guiadas por um instinto materno não haveria erro de fato, não haveria traumas nem maus tratos.

No entanto, a despeito de não acreditar que exista um instinto materno, o que eu costumo dizer a “mães frescas” (ainda que eu também seja uma “recém-mãe”) sobre como guiar a maternagem é: se escute! Muito mais importante do que ouvir conselhos alheios é conseguir ouvir o que nós mesmas temos a nos dizer. Explico. A maternidade é uma convocação para olharmos a criança que fomos e os pais que tivemos. A maternidade é uma transformação. E como não fomos as mesmas crianças, nem tivemos os mesmos pais, ela é uma transformação que acontece de maneira diferente para cada um. E não estou dizendo que ela é uma experiência única! Ora, passar um mês no Tibet talvez seja transformador também! A maternidade não é algo único, mas é avassalador.

E por essa transformação ser diferente para cada pessoa na mesma medida que cada criança é um universo em si mesma, não há como existir receita para se criar filhos. Qualquer tipo de cartilha que tente ensinar pais como lidarem com essa experiência está fadada ao fracasso!

Acontece que conseguir se ouvir e deixar reviver a criança que se foi um dia pode ser muito doloroso. Não é à toa que grande parte das pessoas prefere ignorar esse chamado, tapar os ouvidos e abafar o grito que vem de dentro. Mas, muitas vezes, deixar de ouvir a criança que se foi um dia significa também deixar de olhar com olhos empáticos para o próprio filho. E por não acreditar em si mesma, toma-se como inquestionável as recomendações médicas, os conselhos de familiares, os pitacos dos amigos.

E acredito que por não existir o instinto materno é que mães podem ser suficientemente boas* mesmo quando não gestaram, mesmo quando não pariram, e até mesmo quando não são mulheres. O exercício de cuidar de uma criança, chamado de maternagem, convoca o cuidador para um olhar sobre si mesmo e essa introspecção é fundamental para um olhar empático para a criança, para que então se consiga comover pelos chamados que a criança faz ao adulto.


*O conceito de mãe suficientemente boa foi trazido pelo psicanalista Donald Winnicott. Em sua obra existe a ressalva de que este papel pode ser cumprido por outra pessoa que não a mãe biológica e muitas vezes utiliza o termo "cuidador". Contudo, é importante ressaltar que dentro do nosso contexto social, inclusive dentro do contexto brasileiro, o papel do cuidado é delegado quase que exclusivamente às mães. A Ligia Moreiras Sena, do blog Cientista que virou Mãe, aborda de forma muito contundente essa realidade, a qual pode ser vista, por exemplo, neste excelente texto.
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