Quando
estava por volta do fim do puerpério comecei a ler compulsivamente.
Primeiramente eram apenas os posts sobre maternidade, que logo passaram a
acompanhamento assíduo de blogs para então começar a leitura de livros.
Pretendo aqui escrever sobre todos esse livros que tenho lido desde então.
E, foi
mais ou menos nesta época que fui apresentada ao livro "Sermões de ser Mãe" de Mariana
de Lacerda. Um testemunho sincero de uma mãe sobre sua experiência de
maternidade e sobre seu puerpério.
Para
quem não sabe, puerpério é aquele período pós-parto, que tecnicamente costuma
ser de 40 dias, mas que de fato pode durar muito mais do que isso. Para mim,
durou cerca de um ano. E foi difícil, angustiante e sofrido. Gosto muito dos
textos da Renata Penna sobre o assunto e ela define o puerpério como um luto. E
acho que é bem por aí. O puerpério é um momento de introspecção,
auxiliado pela bomba de hormônios que ocorre após o nascimento, em que
percebemos a transformação que a maternidade traz:
momento de deixar morrer a mulher que fomos para nascer uma pessoa nova. E o
luto não é um período feliz, mas pode ser necessário. E, a despeito do que
quero trazer aqui, está rolando um projeto muito legal da
Ligia Moreiras Sena, do Cientista que virou Mãe, que vai transformar em
documentário o depoimento de mulheres sobre esse período. Período este em que
se preocupam muito com o bebê, enquanto a mãe está em frangalhos.
Enfim,
acho bem importante pontuar a importância do puerpério porque foi através do
livro da Mariana (sim, me sinto íntima) que eu consegui passar por este
momento. Eu o encontrei através da resenha feita pela Isa Kanupp, do Para
Beatriz, que é excelente!
Embora
o livro tenha sido escrito quando a Estela (filha da Mariana) já tinha 7 anos,
ele aborda os primeiros dois anos após o nascimento. A autora analisa o
contexto social da maternidade: como ele era vivido antigamente e como o
fazemos agora. A forma como criar filhos tem se tornando cada vez mais uma
experiência solitária. Além disso, a expectativa das mulheres das gerações
passadas era a de se tornar mãe. De alguma forma, maternar era o objetivo
social das mulheres. E, hoje, espera-se que as mulheres estudem, construam uma
carreira profissional, enquanto que não há estímulos para que a mulher possa se
dedicar ao cuidado dos filhos sem prejuízo das outras esferas. Ao mesmo tempo,
os homens continuam a sua vida pós nascimento com poucas alterações em relação
à vida sem filhos.
Há,
inclusive, um trecho do livro que me marcou muito em que ela conta como se
sentia injustiçada pela sua vida ter mudado tanto enquanto que o marido
continuava a sair lindo e cheiroso para o trabalho. Ah, como me identifiquei
com isso!!!
Mariana
aborda, então o contexto social, a expectativa que se coloca sobre as mães, o
parto, a amamentação, o desmame, o casamento e, ainda, um visão psicanalítica
sobre o assunto. Para mim, foi uma porta de entrada para a literatura existente
sobre a maternidade. É um relato sincero em um discurso que parece uma conversa
de amigas, de mãe para mãe.
Certa
vez, emprestei este livro a uma amiga que, ao final da leitura, disse que
apesar de ter gostado muito, sentiu muita culpabilização. Ora, era assim que eu
me sentia. Eu, que nunca tinha pesquisado a fundo sobre maternidade, trazia a
ideia do senso comum: que mulheres sabem ser mães, que sempre
sabem o que é o melhor para o bebê e que a maternidade é uma fonte inesgotável
de felicidade. Como não sentir culpa ao não me sentir feliz daquele jeito?
Recomendo
muito, não só às mães, mas também aos pais para que possam entender melhor como
suas companheiras se sentem; às pessoas que desejam a maternidade/paternidade e
também a todo mundo que se interesse pelo tema.
O livro
pode ser encontrado aqui.
*Também escrevi uma resenha sobre o livro "Eu não quero (outra) cesárea" aqui.
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